terça-feira, 27 de março de 2012

Supershow versus Abandono

       


  Vocês já repararam no NBB ?  Novo Basquete Brasil. Fui jogador de basquete no final da década de 80 e o esporte era mais magro do que muitos jogadores. Não havia público, salvo raríssimas exceções. O Brasil ficou de fora das Olímpiadas durante vários anos e agora teve a vaga olímpica conquistada com muito suor e garra. Só que os organizadores transformaram o basquete. O que antes era apenas um jogo ( e cá pra nós, até eu acho chato assistir), se transformou num evento. Bonecos promovem o espetáculo, DJs tocam musicas e animam as torcidas. No intervalo show de enterradas, de arremessos de 3 pontos e jogadas de efeito. O Basquete renasceu, se recriou como esporte. E o Feminino caminha na mesma estrada. Times do interior são a certeza de casa cheia, criando um bairrismo salutar.



          E o Volei? Ah, esse tem a já vitoriosa Superliga. Não precisam fazer mais nada. Somos Top Five no esporte, tanto no masculino quanto no feminino. Para que mexer em algo que está funcionando. Certo? Errado. Colocaram um microfone no árbitro para saber o que é falado durante a partida, Troféu para o melhor jogador ou jogadora da equipe vencedora, estatísticas infindáveis abastecem nossa torcida por esse ou aquele time. Disputas em excelência e jogos de altíssimo nível coroam todo o esforço.


          E no MMA? de briga de rua, se transformou num evento esportivo de sucesso. Quem entra num octógono (é assim mesmo?) sabe o risco e existem regras para serem cumpridas. Pronto. Mais um evento de sucesso. E que sucesso. Vida longa ao UFC.
          E na natação? Troféus internacionais, atletas indo treinar em outros países, piscinas e parques aquáticos moderníssimos. Resultado: de meros espectadores dos Marks Spitz e Michael Phelps da vida, viramos torcedores de Cielos e companhia.
          Pode reparar, é só um esporte despontar, que um back-office forte já está trabalhando para transformar qualquer campeonato num evento superestelar. Volei de praia, futebol society, futevolei, motocross, supercross, skate, surf, futsal e tantos outros.



          E o nosso combalido automobilismo? Daí vem o otimista e me diz: Temos a Stock, a Fórmula Truck... Isso mesmo. Temos a Stock e a Fórmula Truck, dois exemplos de evento, e eu citaria tambem a Porsche GT, se essa fosse voltada ao público que assiste e não aos pilotos. Mas entendo, a vocação e o compromisso dela é com os pilotos. E que mais? Temos respingados campeonatos estaduais, vivendo com tubos de oxigênio pelos pilotos apaixonados pelo esporte.  O Fórmula 3 Open só não foi um fracasso retumbante pelo esforço dos pilotos presentes que quase cabiam nos dedos de uma só mão.Esporte esse que nos deu  7 títulos mundiais na categoria supra sumo, além de tantos outros em tantas outras categorias. E que mais? Vá voce, aspirante a piloto de qualquer categoria, vender um patrocínio para um empresário, contando com o público da arquibancada? tire uma foto de qualquer campeonato regional do país e leve ao seu patrocinador. Tiro n'água na certa.
          O autódromo de Interlagos, maior templo do automobilismo brasileiro estaria jogado as moscas, se elas entrassem lá. Nem mendigo para fugir da chuva, faz uso das arquibancadas cobertas. Temos um parque automotivo maravilhoso e que é usado para aferição de táxis (isso mesmo) edesfiles de escolas de samba de grupos longínquos.  Bispos, pastores, padres, apóstolos usam o autódromo para arrebanharem público e fiéis. Exposições, feiras, encontros e mais uma dezena de atividades é realizada no nosso autódromo. Menos o evento principal para o qual foi criado: corridas. "Uma corrida não é completa se não tiver público na arquibancada". Com essa frase termino a matéria de hoje na esperança de ter soprado um pouco de ar dentro do pulmão do nosso autódromo. E nem pensem em tirar o tubo...

segunda-feira, 19 de março de 2012

A difícil pilotagem da F-Vee não é na pista.




Depois de um ano e pouco do retorno da categoria Fórmula Vee, está chegando o momento que a "pilotagem" dos organizadores está sendo bastante exigida. O produto é ótimo, de fácil aceitação, super viável. O carro é fácil de guiar, barato e prazeiroso. O ambiente com os concorrentes é agradável e as batidas de roda ocorrem apenas na pista.

Só que, agora que a categoria está devidamente estabelecida, as tomadas de decisão têm de ser certeiras, pois uma decisão errada pode por tudo a perder. Isso desde alterações no carro, passando por alterações no regulamento e implantação de outras praças e terminando na organização de corridas extra-calendário.

Vejo a categoria terminando 2012 com mais um estrondoso sucesso, com quase 30 carros no grid, mas isso se tomarmos cuidado com alguns detalhes. As vistorias tem que ser mais rígidas, as mudanças no regulamento tem que ser exaustivamente testadas, a implantação em outras praças tem que ser melhor trabalhadas e avançarem nesse sentido e a organização de corridas extra calendário tem que ser melhor analisada.

Tivemos um Desafio de Verão nesse fim de semana que só não foi um fiasco porque trabalhamos exaustivamente para fazer um grid razoável. E isso de última hora. Esse tipo de coisa não pode se repetir. O barco está funcionando pela inércia, o mar está bom e não podemos nos dar ao luxo de irmos para cabine dormir. Temos que ficar na ponte, observando e analisando os dados da embarcação.

E isso vale para os pilotos, mecânicos, comissários desportivos e principalmente aos organizadores da categoria. Continuem trabalhando da forma que vêm trabalhando e não deixem que os pessimistas de plantão se animem.

Até a próxima...

quinta-feira, 1 de março de 2012

Não apenas um degrau, mas "o" degrau




          Para os que vem acompanhando o automobilismo de perto, em meados do ano passado, surgiu a Fórmula Vee. Essa categoria se solidificou, hoje temos 38 chassis entregues, 25 carros prontos e grid se aproximando de 20 carros. Por enquanto a categoria está direcionada para diletantes, pilotos que correram no passado e que agora vem nos Vee uma oportunidade de voltar ao automobilismo com baixíssimo custo e apaixonados por carros de corrida que nunca tiveram chance de correr. Em 2011 realizamos o Campeonato Paulista em Interlagos e a Copa Mobil com 3 etapas em Piracicaba, dando premiação aos vencedores.
          Agora a categoria entra numa nova fase, com seu segundo ano. Existe um abismo para os pilotos novos que saem do kart e almejam o automobilismo. Basicamente só há 2 caminhos. Ou o piloto deixa o kart e senta num F-3 ou parte para a Fórmula Futuro. Em ambos os casos os carros são de tecnologia de ponta e chegam a virar até em 1 minuto e 29 segundos em Interlagos, atingindo máximas superiores a 230 km por hora. Isso compreende um orçamento bem superior ao do kart. O piloto terá que andar vários quilômetros até se adaptar ao bólido, desperdiçando um ano antes de se tornar competitivo. Além de ter uma reserva considerável de dinheiro.
          Aí que entra o Fórmula Vee. O piloto sai do kart e senta num carro que atinge 185 km/h e “vira” em Interlagos em 2:07. Aprende a usar a embreagem, se situa com a diferença de um autódromo para um kartódromo, aprende a “burocracia” de uma corrida de carros. É nesse momento que os pessimistas de plantão entram para dizer que o Vee não tem ajustes, que o carro é frágil e etc. Vamos lá. Se o carro não tem o recurso aerodinâmico das asas, sobram ajustes. O piloto tem que acertar a calibragem, camber, caster, convergência, entender se o carburador está com excesso, com falta, se a falha que está dando em alta é elétrica ou de combustível, pedir para avançar ou atrasar o ponto do motor, enfim, ter noções de mecânica e sensibilidade para ajustes. Quanto a durabilidade, um motor dura em média meia temporada sem se mexer neles. Isso com um orçamento irrisório, bem mais barato inclusive que o próprio kart.
E de quebra ainda anda com feras que correram no passado e fizeram uma carreira de sucesso aqui e no exterior. Pessoas que, como Dárcio dos Santos, Campeão Paulista de Fórmula Vee em 1978 e Vice campeão em 1979, tio de Rubens Barrichello, amigo de Ayrton Senna, Raul Boesel, Chico Serra entre tantos outros campeões. Além de outras feras que estão chegando. Que me desculpem os pessimistas de plantão, mas não há aprendizado melhor do que esse.