segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Copa Mobil de Fórmula Vee - 1

Diário de piloto

Após um mês de preparativos, acordei nesta Sexta-feira, 15 de setembro, com ansiedade e parti com meu preparador e fiel escudeiro Cláudio Cobeio, rumo a Piracicaba para a primeira etapa da Copa Mobil de Fórmula Vee.
Com a incumbência por parte da Organização da Vee em tentar achar uma solução para o conjunto amortecedor e mola traseiro do Vee, fomos com algumas modificações. Com uma mola cortada de suspensão traseira de Volkswagen Quantum montada sobre o amortecedor da moto Honda Twister 250cc, o intuito era de amolecer a traseira e impedir que o carro destracionasse.
Ao chegar ao ECPA (Esporte Clube Piracicabano de Automobilismo),  minha primeira impressão foi de um traçado perigoso, curtíssimo e sem graça. Algumas reformas em andamento no autódromo davam um certo ar de “provisório” o que aumentou ainda mais minha má impressão. Com o passar do tempo e vendo os carros andarem na pista, minha impressão sobre o traçado só me deixava mais apreensivo. Após os ajustes de praxe, Box aberto, lá fui eu para a pista...Logo na saída do box um mergulho nos leva a uma curva aberta de duas tangências com a entrada do miolo bem fechada num “S” de baixa. Saída do “S” com curva a esquerda e subida em terceira marcha no formulinha. Nova curva a esquerda e pé embaixo em quarta marcha na reta oposta com freada brusca para curva a 90º à esquerda. Nova aceleração e freada forte para a parte mais técnica do circuito. Uma chicane bem curta e uma ferradura à direita, aonde os Vee sofreram. Quase ninguém acertava esse trecho. Pé embaixo de novo, descida, subida, freada média forte e entrada no curvão que antecede a grande reta. No fim da grande reta uma curva capiciosa à direita com o mergulho da saída dos boxes. Pronto, estava dada a primeira volta. Hora de afundar um pouco o pé e tentar achar os limites do carro. Uma, duas, três, quatro, cinco rodadas na primeira sessão de treinos, me mostrava que o caminho seria ainda mais árduo do que imaginava.
O câmbio longo utilizado para Interlagos sobrava no traçado, sendo colocada a quarta marcha, em raros trechos por poucos segundos. Quanto as trocas de marcha, somente a terceira e quarta marchas entravam em ação, assim como fazemos no “templo”. Fim do primeiro treino com um tempo de 01h19min alto na melhor volta.
Após esse treino pude perceber que apesar dos inúmeros erros e rodadas, o traçado se mostrava seguro, não tão curto e nem um pouco chato contrariando minha primeira impressão. Com tocada muito mais para kart do que para carro, a pista exige demais do piloto e do carro mas o “negro 27”, ficou bem mais no chão com as molas novas, destracionando pouco  na ferradura tão complicada de eu me achar,  mostrando que estamos no caminho certo. A calibragem subiu bastante, dando-nos mais velocidade nos trechos de reta.
Após alguns ajustes e com a terceira marcha sempre raspando nas reduzidas, antecipando o que aconteceria,  terminamos o segundo treino com a melhor marca do dia até então, 01h18min:230, junto com meu amigo Nenê Finotti que também obteve o mesmo tempo.
No terceiro tempo, optamos por poupar o carro e não entrar, quando, com a pista mais fria e com a “mão” mais acostumada com o traçado, Nenê cravou 01h17min:900.
O clima nos boxes era impressionante como sempre. O pessoal de Piracicaba, seu Luis Finotti com os carros clássicos de competição e os demais pilotos transformaram o clima dos boxes, num clima familiar e tranqüilo, com o romantismo do automobilismo de outrora. Saímos da ECPA as 21horas, nos instalamos no hotel e fomos saborear uma das melhores costelas que já comi na vida. Volta pro hotel e cama, que no dia seguinte o dia prometia.
Acordei às 6 horas, após um sono tranqüilo e merecedor. “Seu” Cláudio Cobeio não roncou como havia me alertado ou se roncou nem vi. Após um café rápido, partimos para a pista.
Ajustes de praxe, sensor de tempo instalado, calibragem checada, motor roncando, box aberto e partimos para o treino livre cronometrado do dia. Após uma ou duas voltas, consigo pegar uma referencia atrás do piloto Rodrigo Rosset, veterano e experientíssimo no traçado piracicabano apesar da pouca idade, além de excelente pessoa. Com a referência, tudo fica mais fácil. Consigo marcar 01h17min:200, ficando atrás apenas de Rosset no fim dos treinos.
Aí a coisa se complicou. Ficando com o segundo tempo nos treinos livres, a obrigação de vir com um tempo bom para a largada, começou a me perseguir. Após um tomada de tempo nervosa, com alguns erros bobos, ficamos com o sexto tempo num total de 10 carros. Não consegui esconder minha frustração, mas nada mais poderia ser feito.
Numa pista com ultrapassagens difíceis e após a opção da maioria em fazer a largada com fila indiana, teria que ter muita paciência se quisesse almejar uma posição melhor no fim da corrida. Largada dada, nenhuma alteração na ordem dos carros. Com o piloto Emanuel Junior na minha frente meu carro vinha bem mais no miolo do circuito, mas quando tirava de lado para tentar a ultrapassagem, o motor da TJ falava muito mais alto que o nosso.
Após a segunda volta, com os 9 carros embolados (Dito Giannetti, o nosso anfitrião, quebrou antes da largada), venho descendo a reta com “cano cheio” e na hora de frear e reduzir para terceira marcha, a marcha não entra e eu perco a freada, sendo ultrapassado por quase todos do pelotão. Meu cambio havia quebrado, me deixando só com a quarta marcha. Ainda assim, apenas com a quarta marcha, tento ficar na pista, sempre achando que estava fazendo algo errado com a marcha, com a embreagem, enfim, não querendo acreditar que o pior tinha acontecido. Com minha corrida internada na UTI, após a sexta volta, vem o golpe final. A quarta e única marcha funcionando resolve estourar no início da reta, me fazendo chegar apenas no embalo aos boxes.
Esse foi o resumo do que aconteceu comigo na primeira etapa da Copa Mobil de fórmula Vee. Apesar do insucesso, não perdemos a motivação, pois sabemos que derrotas, quebras e adversidades fazem parte do caminho a ser trilhado para se obter a vitória, que com certeza acontecerá conosco num futuro não tão distante. Aguardem nos próximos textos, o acidente com o piloto Eduardo e a tão polêmica vistoria dos três primeiros colocados.
Gostaria de terminar os trabalhos hoje, agradecendo aos abnegados do automobilismo como o Sr. Dito Giannetti, que nos recepcionou em sua pista com alegria e competência. Apesar de pequenos imprevistos e alguns poucos atrasos, a pista de Piracicaba é, em sua essência, um traçado muito técnico, dirigida por pessoas competentes e sempre solícitas,  com uma estrutura que atende muito bem as necessidades de quem pratica esse esporte apaixonante que se chama automobilismo.

Um comentário:

  1. Parabéns, Sérgio pela participação e pelo relato. Nada como saber as coisas vista por quem esteve lá, dentro do cockpit. Aguardo ansioso o restante do depoimento.

    Grande abraço,

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