Para esta segunda etapa da Copa Mobil de Fórmula Vee, além da minha presença como piloto e de Claudio Cobeio como Chefe da equipe e mecânico, recebemos o reforço de seu neto Daniel, para a função de intendência e "faz tudo" na equipe. O que antes era apenas um dueto, agora se transformara num trio. E trio é uma coisa arriscada. Da mesma forma que poderíamos ser os Três Mosqueteiros, a sombra dos Três Patetas nos rondava.
A chegada em Piracicaba se deu na quarta-feira, dia 12 de Outubro na oficina da TJ onde estava guardado nosso carro. Cobeio e Daniel começaram a retirada do câmbio antigo, para colocação do que levamos. A esperança era que esse, mais curto, fosse funcionar melhor no travado traçado da ECPA. Enquanto eles se atinham no câmbio, e ajustes no carro, eu e o Thomaz, sócio da TJ, nos encarregamos da difícil tarefa de providenciar um churrasco. Tudo ficou pronto com a rapidez de sempre, em se tratando do “Seo” Cobeio. E agora a confiança no carro era total, já que o câmbio foi a única peça que ainda não tínhamos mexido.
Quinta-feira, tudo pronto, carro carregado na carreta, nos dirigimos ao ECPA para treinar. O Sol do dia anterior, já tinha nos abandonado, migrando para outros prados, nos preparando para o final de semana aquático. Chegamos à pista, e devido ao tempo ruim, com muita chuva, apenas acompanhamos um treino de um carro da TJ alugado para o piloto soteropolitano Rafael. Por razões econômicas e de clima abortamos nosso treino.
Na sexta-feira, inscrição para a prova feita tinha o dia todo para treinar. Carro pronto, vários acertos feitos. Cambio novo, alavanca do cambio modificada para melhor manejo, amortecedores traseiros originais, para não causar polêmica no regulamento, ponto um pouco adiantado e fui para a pista. Molhada, muito molhada. O carro parecia bem na mão e eu me sentia bem a vontade, terminando o treino com a nítida sensação que estava tudo tranqüilo. Não cronometramos o tempo e percebo agora, a importância do GPS nessa fase de testes. Vai ser providenciado. A expectativa do treino cronometrado do sábado, aonde iria me comparar com os demais carros, era grande.
No sábado pela manhã, treino livre cronometrado sem chuva, e entro na pista acompanhando o ritmo dos demais. Ao final do treino o quinto lugar, me deixou bem estupefato, já que por ter apenas oito carros, achei que ia ficar mais para frente. A lição de casa foi feita com a sensação que estava tudo certo, e qual nossa surpresa, quando o “professor” cronômetro, nos coloca no nosso devido lugar. Tinha feito tudo que podia, acertos que só melhorariam a performance, estava pilotando com a sensação de fazer um traçado perfeito e o tempo não condizia com minha condição de pista. Mas é claro que tinha algo errado.
Fomos para a tomada de tempo, e qual não foi nossa decepção ao ficarmos na sétima e penúltima posição, tomando mais de 2 segundos do pole position, Rodrigo Rosset.
Segue classificação da tomada.
1º. 19 - Rodrigo Rosset 1:17.082
2º. 26 - Andre Nohra 1:17.378
3º. 78 - Bruno Leme 1:18.412
4º. 84 - Emmanuel Calonico 1:18.540
5º. 16 - Ricardo Soares 1:18.666
6º. 89 - Gláucio Doreto 1:18.980
7º. 27 - Sérgio Silva 1:19.350
8º. 53 - William Ayer 1:30.386
Vamos ao relato da corrida. Após uma hora do término da tomada de tempo, a chuva começou a cair, o que seria uma rotina até o término do dia. Saímos para formar o grid de largada e já dava pra perceber que minha situação ia ser de espera. Não tinha motor para acompanhar o resto do pelotão e não fosse o Thomaz da TJ insistir comigo para mexer na calibragem, eu não conseguiria ficar na pista nem por uma volta. Dada a largada o “spray” que levantava impedia de enxergar até o bico do carro. Saía do traçado dos carros da frente para tentar enxergar alguma coisa, mas me mantinha na mesma sétima posição da largada. Por volta da quinta ou sexta volta, Bruno Leme e Ricardo Soares, da mesma equipe, se enroscam na saída do “S” de baixa e o Bruno fica fora, entalado na zebra. Passo por ele cumprindo minha tarefa de terminar a prova, tão somente. Com Ricardo Soares poucos metros na minha frente, tomo um susto ao vê-lo rodar na saída da ferradura, quase causando um acidente comigo, no “Negro 27” . Consigo desviar, mas nem me animo muito, pois sabia que o teria no meu encalço em pouco tempo. Enquanto isso, lá na frente Rodrigo Rosset, capitaneava a fila, seguido por André Nohra, Emmanuel e Gláucio Doreto. William Ayer, que não conseguiu acertar seu carro, havia parado, sendo a única quebra de equipamento, entre os Vees.
Na volta seguinte, ao passar pela ferradura, noto o carro do Ricardo Soares parado, indicando que ele também estava fora. Para mim, essa quinta colocação estava mais do suficiente, frente ao equipamento que dispúnhamos.
Mais uma volta e Gláucio Doreto, perde o controle do carro no traçado encharcado da ECPA e roda. O suficiente para que eu pudesse ultrapassá-lo. Sabia que para segurar a quarta posição seria um milagre, pois o carro dele estava muito mais acertado que o meu. E não deu outra. Por mais de 10 voltas travamos um dos duelos mais bonitos já vistos por quem acompanha a Vee. Ele, com o carro muito mais forte, não conseguia enxergar o suficiente para me ultrapassar, em função do “spray” de água que meu carro jogava sobre o dele. Eu, só tinha uma coisa para fazer, encaixá-lo nos meus retrovisores e fazer a marcação de forma limpa e com esportividade. E foi o que foi feito até o fim da prova, me fazendo cruzar em quarto, ficando o Gláucio com a quinta posição e na frente nenhuma alteração.
Grid de chegada
1º. 19 - Rodrigo Rosset
2º. 26 - Andre Nohra
3º. 84 - Emmanuel Calonico
4º. 27 - Sérgio Silva
5º. 89 - Gláucio Doreto
6º. 78 - Bruno Leme
7º. 16 - Ricardo Soares
8º. 53 - William Ayer
Bandeira quadriculada agitada e com o sentimento de dever cumprido com o quarto lugar me encaminho para o parque fechado. O Comissário desportivo da FASP, José Roberto Ricciardi, pede aos 3 primeiros colocados que retirem os carburadores para verificação do Venturi. O comissário tem uma ferramenta na mão com a exata medida de 22,12 mm , dando uma “sobra” de 0,12 mm no regulamento. Nos carburadores do carro 19 do Rosset e nos do carro 84 do Emmanuel, a ferramenta não passa pelo Venturi, mostrando que estavam dentro da medida. Porem nos carburadores do 26 de André Nohra, o gabarito passa, mostrando que estava “fora”. Só que aqui cabe uma ressalva. A peça era da medida especificada no regulamento e não havia nenhum indício de retrabalho. Além do que, a medida acusada na peça era de 22,42. Ficou público e notório que o ocorrido foi uma verdadeira fatalidade. Numa consulta jurídica rápida, deu-se o nome de “culpa de terceiro” para o ocorrido (quem fabricou ou quem vendeu).
De caráter indiscutível, a TJ Competições vem trabalhando para o crescimento da categoria desde sua criação, sendo a equipe com o maior número de carros no grid. Improvável pensar, além de tudo, que um Venturi 0,42 mm maior, traria qualquer benefício, no estado em que se encontrava a pista. Porém, como regulamento é para ser seguido, o carro do piloto André Nohra, teve que ser desclassificado para manter a retidão e precisão da vistoria técnica, deixando o preparador Thomaz desconsolado. Um recurso será entregue na FASP essa semana, senão para tentar reverter o resultado final da corrida, para mostrar que a equipe preparadora de Piracicaba foi vítima de toda essa situação por um fator externo.
Com a desclassificação de André Nohra, trago para São Paulo o troféu de terceiro lugar. Confesso que não me senti a vontade com a posição de terceiro no podium, porem, seria mais constrangedor ainda contestar o resultado dado pelos vistoriadores.
Meu agradecimento aqui a todos que nos acolheram em Piracicaba, em especial ao Emmanuel e Thomaz, que nos cederam a TJ para que pudéssemos fazer ajustes no “negro 27” além de guardar o carro para a etapa de dezembro. Até lá.
Classificação final 2ª. Etapa Copa Mobil Fórmula Vee
1º. 19 - Rodrigo Rosset
2º. 84 - Emmanuel Calonico
3º. 27 - Sérgio Silva
4º. 89 - Gláucio Doreto
5º. 78 - Bruno Leme
6º. 16 - Ricardo Soares
7º. 53 - William Ayer
realmente essa diferença microscópica no venturi, dá o que pensar.
ResponderExcluiré quase o mesmo rigor da F1, um pentenhézinho de milimetro fora, bandeira preta.
Eita.
Mais um problema para os pilotos e seus mecas.
Medir tudo, ANTES, para evitar surpresas.
Belo relato e parabéns pela coragem de enfrentar o aguaceiro.